domingo, março 07, 2010

Jordânia: Na rota dos Nabateus, Romanos e Cruzados

Como prometido, finalmente o post sobre uma viagem quase obrigatória para quem gosta de conhecer antigas civilizações. E com fotos tiradas ao longo do circuito!



A Jordânia fica no Médio Oriente, faz fronteira com Israel, Síria, Iraque, Arábia Saudita e Egipto. Que cocktail! Pensam vocês, mas como o turismo é uma das principais fontes de receitas do país, as autoridades investem bastante na segurança dos turistas. Existe, inclusive, uma polícia específica para o efeito.

Foi uma viagem de 9 dias, em circuito, digna de um conto das Mil e Uma Noites. Visitei os Castelos do Deserto, flutuei no Mar Morto (sim, não é mito, flutua-se sem esforço!), visitei duas cidades romanas, cuja imponência ainda é visível, Umm Qais - Gadara e Jerash, estive no Monte Nebo, de onde Moisés terá avistado a Terra Prometida. Visitei uma igreja ortodoxa grega em Madaba, estive em Karak, uma fortaleza/castelo construída pelos Cruzados; passei um dia memorável na mítica Petra, outrora cidade cosmopolita dos Nabateus, conhecida pelas caravanas de camelos que a atravessavam e, mais recentemente, pelo filme Indiana Jones e a Última Cruzada; passeei no deserto de Wadi Rum, onde pude beber um chá numa tenda de Beduínos (o povo do deserto) e, finalmente, descansei em Aqaba, a cidade portuária jordana, no Mar Vemelho, onde pude desfrutar de dois mergulhos, um num naufrágio e outro num recife de coral. Despertei-vos o interesse? 

Ainda a habituar-me a um novo ritmo de vida e a uma nova cultura (foi a minha primeira viagem ao Médio Oriente), o início do circuito foi dedicado aos Castelos do Deserto, ao longo da via que liga à fronteira iraquiana. Apesar de apelidados de "Castelos", estes edifícios eram, na prática, albergues para os mercadores que atravessavam a Jordânia. Tinham quartos e estábulos, para que homens e animais descansassem condignamente entre as suas longas viagens. O primeiro castelo que visitámos foi Al Harana, relativamente perto da fronteira com o Iraque.

Qasr Al Harana

À tarde seguimos para o Mar Morto, o ponto mais baixo à face da Terra. A água é realmente muito salgada, morna e turva. Não se pode mergulhar nem molhar os olhos, sob pena de ficarem a arder durante bastante tempo! Mas flutuar naquele mar é uma experiência única e muito divertida! Para os aficionados dos tratamentos corporais, podem untar o corpinho com lama negra ali mesmo à beira da água, lama essa que, dizem, purifica a pele.  




O segundo dia de viagem foi dedicado às cidades romanas: Umm Qais, Jerash e Philadelphia (Amã). Das três destaco Jerash e a cidadela de Amã.
Jerash teve o seu auge com o imperador Pompeu, sendo considerada uma das mais importantes cidades da Decápole, a confederação de dez cidades com poderio comercial, político e cultural: Damasco, Philadelphia (Amã), Jerash, Scythopolis (Beisan), Gadara (Umm Qais), Hippos, Dion, Pella, Canatha e Raphana. Cidade cosmopolita, de teatros, templos e múltiplas lojas, foi invadida pelos Persas e, mais tarde, pelos Cruzados, tendo ficado praticamente abandonada. Em 1806, quase totalmente coberta de areia, foi descoberta por um viajante alemão, Ulrich Seetzen, sendo que as escavações para a sua recuperação tiveram início em 1925 (e ainda persistem). Actualmente é um dos ex-líbris do legado histórico da Jordânia.

Jerash

Teatro romano
De regresso à capital, o dia terminou com uma visita à cidadela de Amã (Philadelphia), magnífica ao pôr do Sol...

Cidadela de Amã

Amã. Vista da parte antiga da cidade, a partir da cidadela.
E ao terceiro dia, rumámos sul, com destino a Wadi Mussa (Vale de Moisés), mais conhecida como Petra. Pelo caminho passámos no Monte Nebo, em Madaba e em Karak, onde visitámos o seu castelo/fortaleza, que se ergue imponente,  lá no alto.

Castelo de Karak
O castelo de Karak foi construído pelos Cruzados no século XII e é contemporâneo das guerras com o rei Saladino, que chegou mesmo a montar um cerco em seu redor. O interior do castelo, quase labiríntico, revela batalhas de outrora. Gostei particularmente das cavalariças e das divisões internas, que ainda conservam parte dos seus traços originais.

Interior do castelo
Saímos de Karak e rumámos a sul. Após cerca de quatro horas de viagem, por entre montes e vales áridos, chegámos a Wadi Mussa. Apesar do cansaço, foi difícil conter a ansiedade relativamente ao dia seguinte, quando iríamos finalmente visitar a mítica Petra!

E foi assim que, no quarto dia de viagem, bem cedo, entrámos no vale que iria conduzir-nos a um dos desfiladeiros mais famosos do mundo. Esperavam-nos 12 km de passeio, mas ninguém parecia estar muito incomodado com a ideia. Entrar no desfiladeiro, o Siq, que nos conduz ao Tesouro, o túmulo mais conhecido de Petra, faz-nos sentir minúsculos perante a imponência das escarpas cor de rosa e vermelhas. O caminho, suficientemente largo para permitir que duas charretes se cruzem, serpenteia ao longo de 2km, que parecem muito mais na primeira vez que se cruza o desfiladeiro. O final do percurso, que surge sem aviso, presenteia-nos com esta imagem, de cortar a respiração:

Final do Siq


O Tesouro é provavelmente um dos monumentos mais belos que alguma vez vi.  Imponente, rico, totalmente escavado na pedra... simplesmente lindo. Imaginei o explorador suíço que descobriu Petra e que viu este monumento pela primeira vez... que sorte!

Tesouro - El Kazneh

Petra começou a ser construída em 312 AC pelos Nabateus, povo politeísta, cosmopolita, que habitava a região sul da Jordânia e se dedicava sobretudo ao comércio. A cidade era atravessada por uma importante rota comercial de especiarias, servindo de ponto de encontro das caravanas provenientes de Aqaba, no sul, e das de Damasco e Palmira. Em 551 DC, um terramoto destruiu quase toda a cidade, que nunca mais foi recuperada.
No século XVIII, Petra foi ocupada pelos Beduínos, povo do deserto, que proibiu a entrada a estrangeiros. Só em 1812, o explorador suíço, Johann Ludwig Burkhardt, após se disfarçar de muçulmano e sob pretexto de sacrificar um cordeiro, teve autorização para entrar em Petra. Conseguem imaginar o que sentiu quando descobriu o Tesouro? Eu consigo!

Mas a cidade não é só este monumento. Existem muitos mais, incluindo igrejas e templos romanos. O mais difícil de alcançar é o chamado Mosteiro, igualmente belo, localizado praticamente no cume de uma das montanhas mais altas de Petra. São necessários pelo menos 45 minutos a pé para chegar ao topo, num percurso muito íngreme que serpenteia montanha acima. Muitos turistas recorrem aos desgraçados dos burros, conduzidos por beduínos, para superar a parte mais inclinada da caminhada.



Mas nós subimos a pé e no final, a vista compensou todo o esforço!

Mosteiro
Foi um dia em grande, coroado com o evento Petra by Night, em que repetimos o percurso até ao Tesouro (apenas iluminado pelas estrelas e por velas) e onde nos esperava um espectáculo com música beduína e nabateia, brindado com um chá do deserto.  
Confesso que Petra deixa saudades...

No dia seguinte rumámos novamente a sul, em direcção a Aqaba, onde terminaria o circuito. Em caminho, fizemos um passeio magnífico de TT no deserto de Wadi Rum. Imperdível!

Wadi Rum



Foi a minha primeira experiência num deserto e claro que adorei. As cores, os sons, os animais - sim, engane-se quem pensa que não existem animais no deserto! 




















Estas construções arcaicas em pedra representam as pessoas que passaram por Wadi Rum. Nós também deixámos a nossa pequena pirâmide de pedra!


Subir este declive custou-me mais do que todo o percurso até ao Mosteiro, em Petra. Note-se que partimos daquela carrinha branca que se vê na foto! Mas a vista era realmente fantástica!

O passeio no deserto foi coroado com um chá, servido numa tenda dos Beduínos, literalmente (e estrategicamente) localizada entre duas montanhas!

À hora de almoço chegámos a Aqaba, à praia. Entrámos num barco com fundo de vidro para ver o recife de coral a escassos metros do areal. Era sexta-feira, dia de folga para os jordanos e a praia tinha alguns banhistas!

Praia a 15 minutos do centro da cidade.
O circuito Rota dos Nabateus terminava aqui. Pela frente restava-nos 4 dias de descanso em Aqaba, com praia e mergulhos (mergulhei a partir desta praia com as palmeiras) e digo-vos que quer o navio afundado, quer o recife de coral são magníficos)!

Vista da praia da cidade de Aqaba. 


Israel ali tão perto...


Last but not least... Kenafa!

Doce jordano com queijo de cabra e pistachio. Divinal!

E assim se passaram 9 maravilhosos dias, em que aprendi bastante. O circuito foi muito divertido e a companhia também! Éramos um grupinho engraçado!
Os jordanos são simpáticos e podemos andar livremente nas ruas. Aqaba não é tão bela como o resto das localidades que visitámos, mas é óptima para descansar do circuito, que não deixa de ser cansativo pelas horas de caminhada. Mas vale mesmo muito a pena!

 
Dicas úteis:


Quando ir: Primavera ou início do Outono. No Inverno a chuva e sobretudo o nevoeiro dificultam a visibilidade. O Verão é muito quente, qualquer circuito se torna num pesadelo.

Moeda: Dinar = Euro. Há imensos ATM onde podem levantar dinheiro.

Circuitos: Se puderem, procurem operadores que promovam circuitos com grupos pequenos, em mini-vans (lotação máxima 9 lugares), para que possam desfrutar melhor da Jordânia e evitar a confusão dos autocarros apinhados de turistas.

Voos: Recomendo Ibéria (até Madrid) + Royal Air Jordanian 

Hotéis: Na generalidade são bons, mas juntem mais uns trocos e escolham, no mínimo, de 4 estrelas. Se escolherem de 5 estrelas, vão gostar da experiência e dos buffets!

Alimentação: Não vão ter quaisquer problemas, come-se muito bem naquele país!


De que é que estão à espera? Façam as malas!

2 comentários:

  1. Um destino a considerar, sem dúvida!

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  2. Caro, mas apetecível, sem dúvida. No fundo, nada como entrar na pele do Indiana Jones, nem que seja apenas por uma vez.

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Comentários